- 22 Jun, 2017
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As "fake-news" agora em vídeo
Entre notícias falsas, redes sociais que são a principal fonte de informação e ataques informáticos, a forma como o mundo lida com os factos está a mudar. Já falámos aqui sobre os perigos de vivermos numa bolha de ressonância que nos oferece uma "nova verdade" e oferecemos alguns truques para conseguir contrariar esta tendência. Mas agora o jogo promete evoluir e ao ver o que a tecnologia começa agora permitir... escusamos de ficar descansados.
Entre as notícias falsas que alegadamente minaram as eleições norte-americanas e os ataques sofridos nas eleições francesas há um ponto em comum (ou mais um): todas as notícias tinham base escrita. Eram simplesmente texto em posts, blogs e sites ou mesmo emails, mas apenas texto. Agora as notícias falsas sobem a parada e a capacidade de deslindar a verdade da mentira torna-se num desafio ainda maior. Os avanços na capacidade de manipular áudio e vídeo resultam em programas tão sofisticados que reproduzem de forma verosímil discursos falados e expressões faciais. Não se trata apenas de criar personagens e avatares que a indústria dos jogos e Hollywood já utilizam com hiper-realismo. Trata-se de conseguir manipular filmagens reais e transformá-las no que se quiser. A câmara capta as expressões faciais de um ator e o programa consegue reproduzir essas mesmas expressões no rosto do alvo, gerando um novo vídeo, em tudo idêntico ao inicial mas completamente falso, com uma filmagem que nunca existiu.
Num dos exemplos o ator altera as feições, expressões e o discurso do ex-presidente dos Estados Unidos da América George W. Bush. E a realidade do que isto permite, se a realidade ainda existe, é assustadora.
Desde falsas acusações ou admissões até declarações de guerra... o "cara a cara" promete ser de novo a única forma de manter a proximidade e de garantir a honestidade. Como se prova que alguém não disse algo, quando o podemos ver e ouvir a dizê-lo, confiando nos nossos sentidos como sempre fizemos? E quando esta tecnologia sair das empresas e universidades que as desenvolvem e chegarem ao mercado, deixando que cada um retire o clip do YouTube que desejar e o adultere até que seja qualquer outra coisa? Quando se tornar tão simples criar um falso ficheiro de vídeo quanto hoje é simples criar um vídeo real e partilhá-lo na internet? Aí torna-se muito mais importante conseguir separar o trigo do joio mas nunca será possível afirmar a pés juntos que o que se vê e se ouve é mesmo a realidade.